quarta-feira, 24 de julho de 2013

As implicações de uma expulsão

Nos desportos coletivos, cada jogador desempenha em campo uma função específica que é determinante na tática imposta pelo treinador e no equilíbrio da equipa. A expulsão de um deles afeta, naturalmente, a restante equipa nas componentes táticas, físicas e psicológicas. Conheça as implicações de uma expulsão e de que forma é que ela interfere com o trabalho do grupo.

Afeta a disposição tática da equipa

O treinador monta a equipa em função do número de jogadores que pode utilizar, da função tática de cada um e da ideia de jogo que quer implementar. Se existe um jogador para cada posição, o vazio deixado por uma expulsão terá de ser preenchido, implicando que o treinador abdique da tática inicial, em função de ter menos um jogador em campo.

Afeta a estratégia da equipa

Não é só ao nível da disposição das “peças” que a equipa se ressentirá da expulsão de um colega. O treinador terá de abdicar da estratégia previamente ensaiada, em função de lhe faltar uma peça fulcral na engrenagem e, consequentemente, improvisar uma nova estratégia no decorrer do jogo.

Coloca o adversário em vantagem numérica

Esta é a consequência mais evidente. Com menos um jogador, a equipa terá de reformular a componente tática como passará a enfrentar um adversário que tem uma vantagem objetiva. Evidentemente que esta situação implicará, pelo menos em teoria, uma quebra no rendimento geral, em função da desvantagem numérica.

Implica um maior desgaste físico

É uma decorrência natural de ficar com menos homens em campo. A desvantagem em número de jogadores implica que os ficam dentro do terreno de jogo se esforcem mais, não só em função de estarem em inferioridade numérica, mas também para acudir o espaço em branco que, necessariamente, se irá formar em campo.

Os jogadores podem “quebrar” psicologicamente

Uma expulsão é sempre um duro revés para qualquer equipa que joga de igual para igual com o adversário. As consequências ao nível físico podem ser nefastas, como vimos, mas também se podem verificar ao nível psicológico. Uma equipa que tenha de enfrentar um adversário – muitas vezes durante grande parte do jogo – tem de se socorrer de uma força anímica muito grande, ou correrá o risco de galvanizar o oponente e potenciar que este construa uma vantagem dilatada, o que conformará a situação mais recorrente.
Os jogadores são seres humanos e não ficam imunes a um conjunto de adversidades. Se um jogador é expulso, tudo tem de ser revisto: a tática, as escolhas do treinador, as substituições – porventura efetuadas mais cedo do que o esperado -, o esforço físico, entre outros aspetos. É uma situação imprevista e implica que a equipa assimile quase instantaneamente conceitos opostos ou contrários aos que havia ensaiado, demoradamente, ao longo de vários dias de treino.

Expulsão do capitão de equipa

Todas as situações anteriores são agravadas no caso do jogador expulso ostentar a braçadeira de capitão.
O capitão é o “patrão” natural da equipa, a voz de comando dentro das quatro linhas, aquele que, perante qualquer adversidade, mantém o grupo unido, a equipa coesa, psicologicamente. É, ao mesmo tempo, uma “extensão", no relvado, da figura e das ideias do treinador. Se faltar o homem forte da equipa, mais facilmente se irá desmoronar o edifício da equipa, sobretudo quando há um jogador a menos.

Expulsão de um jogador muito talentoso e desequilibrador

Se a equipa olha para o capitão como o elemento agregador da atitude, o jogador mais talentoso, tecnicamente evoluído e capaz de desequilibrar é em quem a equipa mais esperanças deposita para resolver um jogo, esperando um rasgo de génio. Se o “melhor” jogador da equipa é expulso, naturalmente que isso pode e terá repercussões no desenrolar do jogo e no rendimento da equipa.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

A importância do 12º jogador no futebol

Conhecido desde há muito tempo como o 12º jogador, o público que frequenta os estádios é, muitas vezes, esquecido como elemento fundamental do jogo. Na verdade, nestes tempos de absoluta comercialização do futebol, esquece-se com frequência que este desporto foi criado pelo público e para o público.
No entanto, por mais que o futebol evolua no sentido de um imenso negócio, continua a ser absolutamente mágico o momento de frisson, de emoção plena que sentimos ao entrar num estádio cheio de adeptos. Conheça a importância do 12º jogador no futebol e saiba porque é que este elemento influencia directamente o jogo.




  1. A presença do público e, principalmente, o ambiente que cria, é fundamental na motivação dos atletas. Nenhum jogador gosta de actuar perante bancadas vazias. Antes pelo contrário, ele gosta de jogar perante milhares de olhos que o observam, é estimulado a colocar em campo todas as suas competências e a exibir-se com o máximo de empenho.
  2. Os apupos podem ser elementos de perturbação. No entanto, em alta competição passa-se muitas vezes o contrário: os próprios apupos estimulam o jogador. Já todos vimos entrevistas de atletas a confirmar esta ideia: ser assobiado é muitas vezes um estímulo para fazer mais e melhor. Testemunhos de jogadores de futebol de alta competição, como por exemplo Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, ou Lionel Messi, do Barcelona, afirmam também que se sentem mais estimulados num estádio cheio de adeptos adversários do que num estádio vazio de público.
  3. Obviamente, o comportamento do público nem sempre é o mais aconselhável para promover um bom espectáculo. No entanto, o exemplo britânico é eloquente quanto àquilo que é e deve ser um bom desempenho do 12º jogador. Em Inglaterra, mais ainda em Gales, na Escócia e na Irlanda, é o público que faz do futebol uma verdadeira festa. O fair-play comanda as atitudes dos adeptos e transmite-se ao interior do campo de jogo. Este fenómeno é ainda mais elucidativo no rugby; os jogos do torneio das seis nações, por exemplo, são exemplos perfeitos dessa festa arrepiante que é o jogo. E que longe estamos, em países como Portugal, desse espírito festivo!
  4. Um dos aspectos frequentemente negligenciado quando se analisam as causas das fracas assistências a jogos de futebol em Portugal é precisamente este: o que atrai os adeptos é, em grande parte, o ambiente de festa. Portanto, a adesão do público aos estádios cria uma espécie de efeito bola de neve: quanto maior for a adesão, mais candidatos surgirão a participar na festa. Por isso, é incontestável que uma das estratégias para promover a adesão do público passaria por grandes campanhas em que se oferecessem entradas gratuitas ou a preços promocionais que convidassem o público à festa. Caso contrário, as pessoas acabam por ficar em casa a fazer apostas e a assistir aos jogos que passam na tv. Normalmente, esta estratégia de jogo é muito rentável para quem sabe analisar correctamente todos os aspectos que envolvem uma partida de futebol.
  5. No futebol actual, o papel dos adeptos vai muito além do factor desportivo; eles são essenciais à sobrevivência financeira dos clubes. E não estamos a pensar apenas nas bilheteiras: são os espectadores que compram camisolas e cachecóis; são eles que consomem os produtos do merchandising; são os mesmos adeptos que alimentam as estações televisivas e os jornais desportivos, essenciais para a promoção do clube. Portanto, no futebol actual, ter muitos adeptos significa muito mais do que ter bancadas cheias e bilheteiras recheadas.
  6. Mas nem tudo são rosas no mundo dos adeptos. Depois da vaga de holiganismo que pintou de negro algumas páginas da história do futebol no século XX, o monstro parece querer renascer, alimentado pelos tempos de crise que passamos e pela manifesta ineficácia das políticas seguidas por muitas SAD’s. Os próximos anos serão decisivos para o futuro do futebol enquanto desporto popular; os dirigentes e os responsáveis políticos têm a palavra.